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Segunda-feira, 20/5/2002
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Gustavo... o seu primeiro comentário já começa com uma agressão, ou se preferir em seu dialeto, agreção, a uma organização que você demonstra de forma gritante não conhecer a fundo. Você antes de atacar, pelo menos se deu ao trabalho de ler os grandes escritos da Igreja com o mesmo respeito que leu Hume ou – céus! – Carl Sagan? Se não leu um Santo Agostinho, uma Santa Teresa D’Ávila, um Santo Antão ou um São João da Cruz, o que você sabe sobre a tal organização maldita? Uma versão da história escrita pelos seus inimigos, isso é o que você sabe. Vamos por partes então: religiosidade e moral. Para cada uma destas atividades que você parece ter como hediondas, fazendo delas um julgamento moral, tenho um comentário a fazer. Primeiro, o abate de animais. Utilizando o mesmo raciocínio que você vai utilizar mais adiante, o boi que me alimenta hoje, se estivesse livre e em estado selvagem, alimentaria outro predador. A vida funciona assim. Não me agrada não, mas meu lado animal me faz desejar e necessitar de proteína animal. Então eu a como. Mas existem muitas religiões de desaconselham e até proíbem a ingestão de determinada carne. Então me parece que as religiões também prefeririam que o homem evoluísse e abandonasse tal prática. Mas ainda não chegamos lá. Segundo, a carrocinha é resultado da irresponsabilidade do próprio ser humano, um mesmo tipo de irresponsabilidade que prega que é mais fácil engravidar e abortar que fazer sexo seguro ou manter castidade em momentos adequados. É um raciocínio cômodo e permissivo, contra o qual eu luto, mas que parece tomar conta da maioria da humanidade. O cãozinho filhote é sempre lindinho, mas hora que cresce, pede mais comida, mais atenção, dá mais trabalho ou fica velho, acaba por ser abandonado pelas pessoas que se responsabilizaram por criá-lo. Exatamente como um feto indesejado. Terceiro, a prática de experimentos enojantes em animais não é feita por pessoas que possuem um código moral forte, que sempre acompanha uma religião, mas vem dos CIENTISTAS que você parece venerar. É o MATERIALISMO que causa isto, a noção de que as coisas e seres só têm o valor da sua aplicação prática. Como você vê, a religião não causa nenhuma destas coisas, mas a falta dela sim. Um problema maior ainda é achar que estamos tratando de coisas num mesmo nível quando abatemos um animal inferior para alimento e quando destruímos a vida de um filho nosso. Quanto a ter ou não um Eu, você não pode afirmar que não tem, e eu não posso afirmar que tem. Na dúvida, não acho que se deve arriscar. E acho menos ainda que o Estado deva facilitar a prática da matança. Seus argumentos são realmente amostra de um espírito caído na mais profunda das trevas. Toda a crença moral, meu pobre rapaz, é totalmente independente de qualquer ciência, pois é em muito superior a todas elas. As ciências não foram feitas para descrever a realidade como um todo, mas apenas um pequenino recorte dela. Elas são em sua maioria o estudo das técnicas, e incapazes de descrever um fato concreto em toda a sua amplitude e em sua totalidade. Vejamos um fato simples: o cachorro soltou um verme no tapete. Diga-me qual a ciência descreve esse fato em sua totalidade. Isso é uma impossibilidade concreta. Mas quando observamos à luz das nossas crenças, avaliamos o fato como um todo e dizemos: é bom; é ruim. É esse tipo de raciocínio – não o seu cientificismo barato e datado – que eleva o homem à categoria de animal racional, superior a todas as outras espécies animais que conhecemos. Se você se sente culpado ao ser chamado de ser superior, tem a minha permissão de assumir sua condição verdadeira de parasita intestinal. E de procurar um intestino que o aceite, deixando os seres humanos prosseguirem em paz com suas atividades. Esta versão da história de Galileu não é a única existente. Mas é ótimo marketing para cientistas ateus que querem jogar pedras na Igreja. E a época de Galileu não é mais considerada como medieval, muito menos a de Hume. Uma das histórias que ouvi contava que o Papa, que era ‘padrinho’ de Galileu, só o repreendeu porque ele estava acintosamente desafiando sua autoridade, e isto estava criando mal-estar entre os outros intelectuais da época. Uma outra versão diz que, dentro da perspectiva matemática vigente na época, as contas de Galileu não batiam... Bem, de qualquer modo não conheço o caso direito, justamente por não ser história medieval, que é o que estudo, mas posso fazer uma pesquisa mais profunda para ajudar a você. Em relação à Idade Média e a Inquisição, a mesma coisa. A Inquisição não é medieval, foi criada no século XIII – final da Idade Média – para combater a heresia cátara no sul da França. Contudo, seu auge se deu na Modernidade. Mesmo assim, a propaganda e a quantidade de material pesquisado sobre a Inquisição é bastante desproporcional ao número de pessoas queimadas. Certa vez assisti à palestra de um antropólogo baiano e gay militante, Prof. Dr. Luiz Mott, especialista no "crime nefando". Ele próprio afirmou que os casos extremos – levados à fogueira – não passavam de algumas centenas. Isso em 500 anos! Se quiser fazer uma comparação macabra Gustavo, a repressão nos campos de concentração soviéticos (os Gulags) durante 60 anos ultrapassa muitos milhões de mortos! Fora os campos de concentração nazistas, as guerras mundiais, e as outras maravilhas do nosso século. O século XX foi uma verdadeira Idade das Trevas nesse aspecto. Quanto ao Hume, também não conheço a história dele, mas uma pergunta de ordem prática cabe aqui. Digam-me os meninos todos, que certamente entendem mais de futebol que eu: por acaso algum cartola contrataria um jogador que dissesse abertamente aos jornais que era torcedor fanático do maior time adversário, e que faria qualquer coisa para que este ganhasse o campeonato? Porque é que as pessoas sempre cobram da Igreja uma passividade muito maior que a que cada um está disposto a ter em sua vida pessoal? Porque é que a Igreja quando se defende de seus atacantes está errada? Eu sei que você não vê, Gustavo, sua cegueira é aparente para quem olha desde fora, mas as tradições religiosas da nossa era, o Judaísmo e o Cristianismo, foram determinantes na eliminação de práticas extremamente desumanas, inclusive da escravidão, que era prática milenar de todas as culturas anteriores, e só foi considerado um pecado e um erro PELA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ. Tanto que em dois mil anos, o período escravagista não passou de trezentos anos. Todo esse seu pretenso respeito à vida dos que já nasceram provém do código moral da Igreja que você despreza. Há muitos anos que não se utiliza mais o termo "Idade das Trevas". Para uma leitura (boa) que desfaça esse mal-entendido, basta consultar Regine Pérnoud. Luz sobre a Idade Média, ou Idade Média - o que não nos ensinaram. Vá ler, Gustavo, saia das trevas. Pare de cuspir frases feitas na cara dos outros. Leia os DOIS lados da questão, muito, depois tome a sua posição. Não antes. Estes questionamentos não são brincadeira, isto não é um clubinho, é do destino da civilização que estamos falando. Leia os jornais e me diga que não estamos caminhando a passos largos para a barbárie e a completa destruição de nossa cultura. Mas você já é um dos bárbaros, não é? Metaforicamente colocando a espada em meu pescoço e da minha Igreja, e desejando nossa destruição. Agora, homossexualismo. No meu dialeto, e no meu entender, a PROPENSÃO ao homossexualismo não é doença. Não pode nem deve ser comparada a doenças como o câncer ou hemofilia. É um desvio de conduta sexual, como também o são o sado-masoquismo, a tão falada pedofilia, voyeurismo, e tantas outras coisas mais estranhas que vemos todos os dias. Quem tem a intenção – ou será intensão, em seu dialeto? – de debater de forma racional e lógica, não pode começar comparando coisas que não são de uma mesma natureza. Aliás, se discute até hoje o que se quer dizer com PROPENSÃO ao homossexualismo. Você então comparou coisas incomparáveis para defender uma posição que ainda não foi definida. Assim vai bem. Eu odeio perseguições (perseguissões?) feitas a qualquer grupo social. Os homossexuais não são perseguidos por mim, nem por pessoas que conheço. Interviria, se fosse caso isolado; chamaria a polícia, caso fossem em número muito grande. E na verdade, pelo menos aqui no Rio, a dita perseguição aos gays se restringe a pessoas que têm um mau-humor existencial de tal tamanho que perseguem qualquer coisa que passar na frente deles, qual cachorro vira-lata em beira de estrada. Mas isso não impede que os gays tenham um pedaço da praia de Ipanema só para si, com direito a bandeira do arco-íris e tudo, nem que vivam na mesma relativa intranquilidade de todos nós. O que qualquer pessoa faz entre quatro paredes se torna problema nosso a partir do momento que afeta a sociedade como um todo. Ou você acha que os políticos corruptos fazem suas tramóias passeando no parque? As piores sacanagens, lato e strito senso, são as que acontecem entre quatro paredes e afetam a pessoas do lado de fora. Os resultados morais de uma prática permissiva do homossexualismo com status equivalente ao heterossexualismo amolece a moral e prepara o terreno para que aconteçam coisas menos, digamos, suaves, como abuso sexual a crianças, "golden rain" (você sabe o que é?), sado-masoquismo e práticas hedonistas das mais grosseiras. Isso tudo traz um aviltamento da consciência que acaba por produzir perversos polimorfos como você, que acham que uma vida humana é equivalente em valor a uma ameba. Isso é problema de todos. Além do que, o próprio conceito de civilização já pressupõe uma perda de liberdade individual para o bem do grupo. Porque só os homossexuais estariam isentos disto? Já comentei ad nauseum o que acho da elevação de status do gay ao nível do hetero, e acho que se extrapolarmos isso para os outros tipos de desvio de comportamento sexual, fica claro o absurdo da coisa: porque não então efetuarmos casamentos entre irmãos, se eles se amam e querem ficar juntos? Ou entre mãe e filho, ou pai e filha? Qual o problema fisiológico disto, ou mesmo biológico? Criadores em toda a parte, quando querem apurar características genéticas de determinada linhagem de animais, cruzam pai e filha, normalmente. Vamos então criar um movimento político anti-incesto? Abaixo o controle estatal das famílias! Que os pais comam suas filhas! Agora, aborto. Essa sua visão de uma gravidez não desejada ser a mesma coisa que uma infestação de parasitas é algo que eu acho tão aviltante que nem merecia comentário. Mas como já fui acusada de fugir do assunto, coloquemos uma máscara anti-gases e examinemos seu comentário. Um verme, quando se hospeda num organismo humano, causa efeito daninho à fisiologia desse, o que torna premente a erradicação dos invasores. Um feto humano causa mudanças hormonais em uma mulher QUE SÃO ALTAMENTE BENÉFICAS à sua fisiologia, sendo que alguns médicos afirmam que as mulheres que não tiveram filhos e não amamentaram têm uma propensão maior ao câncer ginecológico. Só aí, já vemos uma diferença gritante, não é? Por isso, não teria grandes problemas em tomar um remédio e expelir um verme que me ataca. Como é a mulher que decide a continuação ou a interrupção do desenvolvimento do dito embrião, acho que a reação emocional dela não é só relevante, é determinante. Já estudei biologia, já fui a laboratórios e vi slides de diverso fetos de vários bichos, de galinhas a porcos. Muito macabro. Agora me diga você: qual a importância destes fetos todos serem estruturalmente muito parecidos? Isso significa que eles têm todos o mesmo valor? Então faça isso: quando você quiser ter um filho, vá a feira e compre um pintinho, ou melhor ainda, vá à granja e compre um ovo fertilizado e acompanhe o nascimento de seu rebento em casa. O álbum do bebê vai ficar uma graça! Querido, nenhuma mulher, nem as que abortam como método contraceptivo – e eu conheço algumas que o fazem – acha que o feto que está abortando é o mesmo que um feto de frango ou um girino. Você por favor, não projete seu delírio nas mentes de outras pessoas. Como o Alexandre soares disse, se as mulheres pensassem assim, não seriam mulheres, seriam monstros genocidas, moralmente e na prática também. Matar uma pessoa aos dois meses, aos dois anos ou aos vinte e dois é apenas uma questão de um trabalho maior ou menor para fazê-lo. O ser humano de vinte e dois certamente vai brigar muito mais contra a tentativa que a criancinha ou o feto. Pode ser até que ele frustre totalmente o seu intento de matá-lo, defendendo-se de você. Por isso, matar crianças ou bebês, antes ou depois do parto, é um crime PIOR que matar seres adultos, não menor. Bom, posso dizer que meu dinheiro é meu, me pertence, trabalhei por ele e conquistei o direito a ele. Mas quem foi que disse que os nutrientes PERTENCEM à mãe?? Ela os produziu? Ou os roubou dos animais, vegetais e minerais que ingeriu, sem pedir a mínima permissão? Ou será que os vermes têm direitos, mas os legumes não? Plantas são os únicos seres vivos que produzem seus nutrientes, e poderíamos contra argumentar que elas o fazem através da apropriação destes nutrientes presentes no solo. E agora, de quem são os nutrientes? E com que direito a mãe poderia negar os nutrientes ao filho, já que ela por sua vez os roubou de outrem? Resumo da ópera: toda a vida pertence a DEUS, e Ele dispõe dela de acordo com seus desígnios. Se eu achasse mesmo que distribuir dinheiro acabaria com a fome, daria todo mês grande parte de meu salário para isso. Só que a fome não se resolve com dinheiro. Se resolve com consciência. Que você não tem. Oh, Deus Santíssimo, ele agora encarna Grouxo Marx em sua memorável frase: "Jamais frequentaria um clube que me aceitasse como sócio". Quer dizer que é melhor a morte que ser um filho seu? Sabe que eu estou quase inclinada a concordar? Mas então faça o seguinte, vá ao médico e faça logo uma vasectomia. Corte o mal pela raiz. Assim, você jamais terá filhos, desejados ou não. Quanto ao que eu penso de seus métodos educacionais, se eles têm o mesmo teor destes seus comentários, acho que você devia ser proibido por lei de passar a menos de cem metros de qualquer escola, que dirá educar crianças como pai! Como a maioria das crianças que nasce no mundo é indesejada em algum nível, você acabou de decretar a destruição da espécie humana. Aperte então o botão vermelho. KABUM!!!!!! Ai, ai... acho que já mostrei porque você É uma criatura imatura. Porque trata a coisa como uma disputa entre amigos e inimigos, não como um debate de idéias. Também já falei porque acho seus argumentos bidimensionais, pois não imagino que você seja fininho feito uma folha de papel. Acho seus argumentos bidimensionais, porque ficam apenas na superfície do problema, sem se aprofundar nele. Isto é não ter profundidade, ou seja, usar de argumentos bidimensionais. Ignorante, meu caro, não é uma ofensa, mas a descrição do estado de uma pessoa. Você IGNORA completamente a verdade a respeito da Igreja, e a ataca com slogans e palavras de ordem. Isso é ser um ignorante de carteirinha. Indicação de bibliografia não é uma ‘tática diversionária’ (sic), mas sim uma tentativa delicada de abrir seus horizontes. Se você prefere uma escovada pública, que seja feita sua vontade. Uma última pergunta: no quê exatamente estou ignorante?

[Sobre "Regras da Morte"]

por Assunção Medeiros
20/5/2002 às
17h03 200.184.36.94
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Bendito Arquiteto!
Alexandre, se um livro é uma cabana, uma teoria com a qual eu concordo plenamente, então você é um arquiteto dos mais talentosos. Além de ser um general vitorioso e um ser humano do melhor estofo. Escuta, você ainda não mandou fazer um busto com seu rosto não? Quero encomendar um para minha estante! sue recruta fiel e fã ardorosa! De carteirinha mesmo! Assumida! Hip, hip, hooray! Hehehehehe... Desculpe o excesso, general, é o seu texto que faz isso... Beijos da Sue

[Sobre "O que é um livro"]

por Assunção Medeiros
26/4/2002 às
11h55 200.184.36.94
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